Entre o Direito, Economia e Gestão
Consequência direta de um sistema de ensino absolutamente centralizado, os bancos das graduações de direito se concentram no ensino teórico, no aprofundamento da ciência do direito, e desviam de um ponto óbvio: os profissionais do direito serão, todos eles, prestadores de serviço a alguém do setor público ou privado.
A consequência é que os juristas criam, involuntariamente, uma barreira de linguagem, restringindo a compreensão do que é juridicamente correto àqueles que já são iniciados em sua arte.
Tratando especificamente daqueles que escolhem pela advocacia empresarial, o cenário é que o profissional do direito se forma sabendo sobre a ciência do direito, mas com expressiva dificuldade de compreender o problema real do cliente e de comunicar com ele a solução para a sua questão.
É o que, pessoalmente, chamo de conflito de linguagem entre o juridiquês e o negocial. Enquanto o advogado fala juridiquês, o empresário fala negocial. E os conflitos de compreensão que daí surgem são os mesmos da interlocução entre o javanês e o português.
Enquanto o empresário quer saber como colocar a sua criação em ação, esperando soluções jurídicas, o advogado usualmente está preocupado com os obstáculos jurídicos. Daí a famosa frase de J. P. Morgan: “Não quero um advogado para dizer o que eu não posso fazer. Quero um advogado para dizer como fazer o que eu quero fazer”.
Quando o empresário está preocupado com resultado, lucro líquido, faturamento, custo, despesa, EBTIDA, o advogado está preocupado com o binômio constitucionalidade-legalidade das questões em debate.
Causa a impressão de que o empresário quer ver o mundo girar e o advogado, receoso, conservador, involuntariamente colabora para parar.
Não se trata de má-fé ou incompetência, mas tão somente consequência de: a) uma estrutura jurídico-normativa insana, altamente suscetível a surpresas com alterações legislativas ou variações nos entendimentos de tribunais (geralmente com “efeitos retroativos”) e; b) uma base curricular de ensino jurídico que não amolda aprendizado teórico do advogado ao mundo do cliente.
Por sorte, o advogado é um sobrevivente e é notável o seu movimento de aprimoramento do seu conhecimento.
Observa-se uma explosão nas matrículas de advogados em pós-graduações voltadas a controladoria, finanças, gestão e projetos. Curiosamente, o advogado também percebeu que é um “empresário” (a despeito do que teima em dizer a OAB), havendo grande aumento também na oferta de cursos para gestão organizacional e financeira de escritórios de advocacia.
Há, ainda, um interessante movimento de advogados que passaram a circular mais por órgãos e conselhos em que têm a oportunidade de absorver informalmente uma outra visão do conhecimento, cito os encontros de federações comerciais e industriais, câmaras de dirigentes lojistas e movimentos associativistas empresariais.
Por fim, cito a agradável frequência de advogados a instituições voltadas estudos empresariais informais espalhadas pelo país, normalmente voltadas ao aprimoramento de temas como gestão, filosofia, política, ética e economia, dentro os quais cito o Instituto Líderes do Amanhã (sediado em Vitória-ES), os Institutos de Formação de Líderes (sediados em Belo Horizonte - MG, Brasília - DF, Florianópolis-SC e São Paulo-SP) e o tradicional Instituto de Estudos Empresariais (sediado em Porto Alegre), que já desenvolve esse trabalho há mais de 35 anos.
O advogado é um ser político e pode aproveitar disso para ampliar os seus horizontes e aproximar a sua linguagem do empresário, potencializando sobremaneira o desenvolvimento do ambiente empresarial e o da própria advocacia. Torço por isso!
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